segunda-feira, 11 de julho de 2011

Entrevista com uma profissional de Mediação

Entrevista com analista judiciário, Rosane Dias, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que atua como mediadora nesse órgão.




Com suas palavras, o que é o processo de mediação?

R: Mediação é o momento em que as partes envolvidas no conflito reaprendem a arte de dialogar e a descobrir uma solução que atenda a ambas as partes. O mediador funciona como facilitador, possibilitando aos envolvidos a solução de seus próprios problemas através de sessões conjuntas e privadas.

Como é o seu trabalho?

R: Para ser um bom mediador a pessoa tem que esquecer a sua formação anterior e "vestir a camisa" de mediador. Alguns princípios básicos devem ser observados: imparcialidade, confidencialidade e simplicidade. A linguagem corporal é importantíssima para que o profissional encontre os melhores caminhos. A palavra não dita, mas sentida pelo mediador é o que faz a diferença, ele deve perceber a essência do conflito. O importante nessa profissão não é a resolução do processo, mas do conflito que gerou o mesmo, é a validação dos sentimentos. Normalmente são encaminhadas para mediação partes envolvidas em um espiral de conflitos, que leva a crer a existência de uma causa original. Cabe ao mediador fazer com que os próprios envolvidos descubram essa causa e apresentem uma solução.

Fale sobre a instituição da mediação como profissão.

R: Não existe ainda faculdade de mediação, existe até um movimento no sentido de que essa cadeira seja criada, mas ela ainda não existe aqui no Rio de Janeiro, então profissionais das áreas de serviço social, psicologia e direito interessados devem procurar os cursos disponíveis para sua realização. O tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro tem investido na formação de mediadores acreditando ser esse o futuro da solução de conflitos no poder judiciário. Hoje as mediações acontecem nas áreas criminal e família em caráter experimental, alcançando índices surpreendentes. Tal curso é oferecido a serventuários do poder judiciário das áreas citadas anteriormente, e profissionais de psicologia e serviço social encaminhados e selecionados por algumas faculdades do Estado. Após a conclusão da parte teórica, os futuros mediadores devem disponibilizar 180h de seu tempo para atuarem na solução de conflitos do poder judiciário como período de estágio para sua certificação.

O que pode ser dito sobre o futuro dessa profissão?

R: Já existem no Estado, nos grandes centros urbanos, escritórios de mediação contratados por grandes empresas, para solução de seus conflitos, minimizando dessa forma o custo no pagamento de profissionais e no tempo  da resolução do conflito dentro do poder judiciário. É um novo campo promissor visto com grande interesse por estes profissionais que, dependendo de sua capacidade, podem ser contratados a "peso de ouro".

Quais as principais dificuldades que você enfrenta?

R: Sendo um projeto novo, ainda encontra resistência entre as partes, que não confiam na solução de seus problemas de uma forma amigável e alcançada através de um amadurecimento próprio, proporcionado pela atuação de um bom mediador. O reestabelecimento do diálogo, a capacidade de pensar, não só em um "veredicto", mas na solução de seu problema sem esquecer do outro é uma das metas da mediação. Ainda é difícil quebras as barreiras geradas pelo ódio e pelo desejo de vingança, que é o que, muitas das vezes, leva as pessoas até o judiciário. Resgatar a arte da "escutatória", ouvir da outra parte opiniões sobre si próprio, entender que o problema original possa ter sido causado por ele mesmo, é uma das coisas que ocasionalmente assusta. Nesse momento pode surgir um impasse e o mediador deve ter a capacidade de perceber o momento e interromper de forma sábia e sutil a resistência das partes.

O que você acha legal para nós, futuros psicólogos, sabermos sobre nossa possível atuação nessa área?


R: No campo da psicologia eu acho que o bom psicólogo tem uma área importantíssima para atuar, porque ele consegue enxergar o interesse da pessoa naquele processo, o que a pessoa busca exatamente quando vai a justiça. Quando alguém vai à justiça, tem que identificar o que realmente quer: você quer resolver o problema ou quer que a outra pessoa seja condenada? E é isso que o mediador faz, com que ele firme interesses ao invés de posições. Justiça não deve ser encarada como um órgão de vingança, e sim de solução de conflitos, e o psicólogo através do entendimento da psique consegue perceber isso e utilizar essa capacidade ajudando as pessoas na solução de seus próprios conflitos.

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